20 de dezembro de 2013

Usa


Usa... 
Mas não abuses...
 

16 de dezembro de 2013

Imagem

Hoje, não consigo recompor o meu rosto,
e, se nitidamente o imagino,
não sou bem eu
mas uma qualquer imagem.
Hoje, a imagem apropriou-se de mim:
deve ser assim que se começa a morrer.
Quando o corpo desaparece
nos sinais da passagem.

Já não tenho tempo para ganhar o amor,
mas não quero complicar as coisas
mais simples da terra,
bom seria entrar no sono
dentro de um saco do meu tamanho,
e que uns dedos invisíveis lhe dessem um nó,
e eu de dentro não o pudesse desfazer:
um saco sem qualquer explicação,
que ficasse para ali num sítio bem amarrado.

Não por causa do destino, 
apenas longe, 
sem nada a dizer,
esquecido de mim mesmo, 
num saco atado,
um saco arrumado 
nos armazéns obscuros.
...
Vento

A história é infinita. 
Podemos interceptá-la em qualquer ponto.
Era uma vez uma cidade onde os habitantes sabiam tanto
do sofrimento humano que quando acordavam deitavam-se logo.
...

5 de dezembro de 2013

Desejo

Esta noite sou um animal esfomeado,
caminho por lugares inesquecíveis,
quanto mais ando, mais escura a noite fica.
Enquanto isso a música toca, suavemente
as luzes e os sons sobrevoam a mente.

É daquelas coisas
que se sente com clareza,
mesmo por detrás do véu
consigo decifrar as formas do teu corpo.

Em frente a ti, penso…
Que rosto tão belo
que olhar sensual
que linda mulher…

Provoca-me
com o teu olhar,
faz de mim
o Rei da cidade selvagem.

Toca-me...
Abraça-me...
Beija-me...
Ama-me...

O teu corpo rebola e vibra
na ponta dos meus dedos.
Olho para ti, e digo-te ao ouvido.
Tens um corpo tão belo e delicioso,
Desejo-te…
...
Vento

3 de dezembro de 2013

Sombra

Viajo ao longo desta estrada que é a vida
dia após dia, noite após noite,
para onde quer que vá
levo comigo a minha sombra.

As pessoas questionam:
Bem… Porquê?
- Porque um dia serei livre e encontrarei o céu.

Sou alguém que navega com as ondas do mar
inconstantes e incertas,
mas se perguntarem para onde vou?
Responderei:
- Para onde não se consegue chegar
e indico o caminho das profundezas.

Sou o homem que um dia enfeitiçaram,
mesmo que perguntem!
Não revelarei os segredos.
Não direi uma única palavra
nem mesmo o meu próprio nome.
Porque vá para onde for
vou ser sempre o mesmo.
E não tenho medo…
Não tenho medo…

Viajo ao longo desta estrada que é a vida
dia após dia, noite após noite,
para onde quer que vá
carrego a minha sombra.
As pessoas perguntam:
Bem… Porquê?
- Quando partir serei livre.

http://www.youtube.com/watch?v=DKCf4Y4Y8IU
 
Vento

15 de novembro de 2013

Amanhecer


É preciso que saibam,
este rosto há quarenta e nove anos
que o trago,
apenas para dar e receber
o espanto do amor e do tempo,
do eco e da rosa
e a violenta companhia
insubstituível do mundo.

Todas as manhãs
são o quadro onde te invento.
É um festim para os olhos,
uma música com todos os acordes
é uma paixão que não arrefece.
...
Vento

24 de outubro de 2013

Julgamos que a vida nos escapa e na realidade a vida é isso

Às vezes fico com a vista parada
num teto durante um momento.
Os olhos deixam de ver por fora e o corpo
parece que não o sinto… 

Então espanto-me,
desta coisa estranha que é viver,
faço-me perguntas que cortam
e o que sou fixa-se num ponto.

A voz que vive em mim e que me diz
isto e aquilo sem palavras
que também serei menos um em breve.
Que tudo o que penso agora,
e o que pensei e chegarei a pensar
há muito que não é nada.

Porque prendem o amor
com correntes invisíveis
para que não fuja!
Vendam os seus olhos para que não olhe!
Reclamam para que não viva!
Entretanto o amor morre, diluído no tempo
desvanece em algum raio de sol. 
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Vento

8 de outubro de 2013

Dor

A dor não me pertence.
Vive fora de mim,
por aí na natureza...

Corre nas veias do ar,
atrai os abismos,
sobrevoa as montanhas
atravessa os oceanos.

Em certos momentos
de penumbra
igualo-me à paisagem
que a rodeia,
surge nos meus olhos
presa a algo que é passado
num céu indiferente.
 
Algumas pessoas subestimam o erotismo,
o erotismo é para ser entendido.

People empty me. 
I have to get away to refill.
...
Vento

3 de outubro de 2013

Os teus olhos refletem o meu sangue

E Deus, cujas asas
pensava que fossem feitas
com nuvens de algodão,
que quando tocassem na minha face
seriam como quando passo os dedos pela madeira
depois de passar óleo.

A perda
O irreal, o vazio
O assento sem ti
Folhas brancas manchadas de sangue
uma realidade que vem de madrugada
nos primeiros raios da luz solar.

Neve, desejo e amor…
E o deslizar no escuro dos teus olhos
eclipsou-me por completo
sorriste para o vazio
uma pálida forma de alegria
mas sem ti não existe amanhecer.

Nada surge no horizonte
não há rosas na planície
além do céu manchado dos teus olhos
que as pálpebras escondem
como se fosse neve a desvanecer no oceano
revelando a vida de um mar deslumbrante
e repleto de luzes.

Como o mar era o rio
E agora já não é…
Enquanto as nuvens andam à deriva
Enquanto as flores morrem
Deus, ouve dizer que é amor…
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Vento

23 de setembro de 2013

Outono


Nos dias em que se espera silêncio
o outono toca-nos dia após dia,
penso por um momento...
Quem me dera que a chuva viesse
e nos diluísse um ao outro,
e pela noite dentro ao sabor da corrente
navegássemos em direcção ao mar.

Foi no outono, num dia qualquer
há muito tempo
que perdi o controle de todos os dias
não importa,
são todos iguais uns aos outros
não houve noites a separá-los,
porque não durmo.

O meu coração é demasiado grande
para o meu corpo
então deixo-o voar,
mas estamos tão pouco
onde estamos
é que no fundo
tudo é pouco
tudo é insignificante.

Questiono-me:
A quantos beijos estamos hoje de distância?
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Vento


18 de setembro de 2013

Arquivo

A minha mente já não cresce
desde que parei de crescer,
as memórias multiplicam-se
então assumo que as minhas coisas
estão guardadas numa dispensa.

Os meus joelhos
Os meus pés
um arquivo que anda
em desordem ordenada
em profunda ponderação
de um navio sobrecarregado.

Às vezes quero deitar-me num banco do jardim
mudar a minha maneira de ser e sentir,
pensar naquilo que perdi por dentro
e do que perdi por fora,
mas as palavras abandonam-me
como ratos que abandonam um barco
quando este se afunda.
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Vento

12 de setembro de 2013

Anoiteço dentro de ti

Entro em ti
com palavras de amor,
preciso de ti,
preciso que me sintas,
como se eu fosse uma pedra de gelo
que caminha pelo teu corpo.

Fecha os olhos e balança,
sente o fogo que arde nas tuas veias,
sente-me no teu ser mais profundo,
sente esta doce dor invisível
que te consome a mente.

Não sou alguém que espera
que lhe abram a porta
numa parede sem porta,
até porque...
A tua beleza
é mais do que suficiente
para encher um dia de vida.

Torna-se cada vez mais difícil
distinguir aquilo que se perde
daquilo que nunca se teve.
Por serem assim os meus sentidos,
atrevo-me a dizer…
Anoiteço dentro de ti,
e foi assim que adormeci.

"Se perguntarem por mim diz-lhes que enlouqueci."
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Vento

4 de setembro de 2013

Ruídos

De noite inclino-me, inclino-me e deixo-me cair
com este cabelo e o sistema nervoso descompostos,
caio de cansaço, de dor, de sono...
Sou uma mentira que diz sempre a verdade.

Fecho os olhos, procuro adicionar à escuridão do quarto
a escuridão das minhas entranhas.
Agrada-me a ideia de que, através deste simples gesto
pudesse harmonizar o interior e o exterior,
é como se as trevas em que o quarto mergulha
e as que dentro de mim se desprendem
fossem de uma só natureza.

De certa forma deixo de ter corpo,
ou pelo menos um corpo exterior,
sem luz posso finalmente reduzir-me
e ficar atento aos ruídos da noite.
Esses ruídos, que em meu entender
são um modo da distância se exprimir,
momentos de puro sossego
que por si só, proporcionam um belo prazer.

A transformação que as trevas provocam no meu corpo
quando o ouvido se aproxima do coração,
é como se essas mesmas trevas
assimilassem e reproduzissem
o espaço existente entre o interior e o exterior.

Esses ruídos que surgem dentro de mim
e que os sentidos parecem identificar
só porque habitam este corpo,
circulam em ambos os sentidos
até que lhes anulem os limites.

“Tantas vozes fora de nós!
e se somos nós quem está lá fora!”
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Vento

13 de agosto de 2013

A lenda do vento

No canto mais escuro
onde vivem as outras cores
o homem inquieto
consegue  ouvir
as vozes silenciosas
da cidade impura.

As vagas de fogo
das marés negras
que envolvem a cidade
deixam pegadas na areia,
é assim a noite de todas as almas
é assim a lenda do vento.

Quando anoitece
reaparecem os corpos,
falam do além
e das ligações invisíveis
que existem
para além da luz
provenientes
da ilha dos desejos.

Navegam
à sombra do silêncio
e finalmente
no reflexo do espelho
consigo ver
o rosto da máscara.
Deus…
Ninguém me conhece como tu.
...
Vento

15 de julho de 2013

Gosto do teu olhar


 
Gosto da melancolia dos teus olhos
quando me olhas na noite,
acompanha-te uma brisa fresca
que me toca pelos espaços abertos do teu corpo,
perco-me na carícia dos teus gestos
que vieram ao encontro dos meus silêncios.

Gosto desse teu modo calmo, sossegado
com que te encostas no meu peito
e te deixas ficar
entre ternuras e embaraços,
como se tudo ficasse, de repente parado
e o teu mundo fosse delimitado
pelos meus braços...  

Gosto da tua voz,  tranquila, de tom suave,
com que falas, como se acariciasses
cada palavra que dizes...
A tua presença é um infinito sossego,
um pedaço de sombra onde me abrigo.


Sem ti....
Sou náufrago, entregue à sorte do desnorte,
personagem sem rumo que subitamente
se torna distante..


...
Vento

4 de julho de 2013

Mais...

 ...

Mais do que a escrever
é muitas vezes a ler
que acalmamos a força dos fantasmas
e enchemos os vazios dos baús assombrados
e calamos as vozes, tantas,
que zumbem por dentro. 
...
Vento

1 de julho de 2013

Os corações tremem

Na balada das distâncias
existe uma luta noite e dia,
foi esse o caminho escolhido
na breve passagem pela vida
que o pobre filósofo
fez a abordagem sobre a sua existência.

No meio da revolução
vinda do vazio
algo ajuda a aquecer
o coração gelado.
Da escuridão
sobra uma ténue luz
e um cheiro doce envolvente.

As ideias fragmentadas
navegam pelo rio dos fantasmas,
aquele rio límpido que circunda as montanhas
e que desce até à planície.

Os corações tremem
esperam pela dor que ainda não chegou,
entretanto as borboletas brilhantes
voam sobre a planície verde
ignorando o vermelho vivo
que brota das flores
ou os vidros partidos
de uma janela abandonada.

Os pássaros noturnos
empurram a luz do céu para longe,
o mundo adormece finalmente
nos braços
de um lago branco,
são palavras assim tão delicadas
que preenchem a alma.
...
Vento

27 de junho de 2013

Sopro

O amor é capaz de fazer milagres
sem dúvida, penso assim,
alivia a dor e suaviza mágoas,
aliás tenho a certeza
que se o amor não existisse
tornava-se insuportável
o correr da vida.

A fé que me abraça
e toca na alma
é um sopro de vida.
Este sonho acordado
é a única realidade.
Por isso não procuro,
deixo-me adormecer
assim abraçado
aos sonhos.
...
Vento

12 de junho de 2013

A leveza das horas


Debaixo das árvores após o trabalho
ansioso por entrar no carro e voar para casa
olhei para o céu rodeado de nuvens.
O meu olhar perdeu-se por instantes
no azul límpido vindo do espaço vazio 
entretanto aberto entre as nuvens.

Foi estranho…  
Senti-me hipnotizado,
atraído para uma subida a pique
atravessar aquela densidade das nuvens mas,
ao mesmo tempo,
também senti a leveza das horas,
senti-me leve e a pairar sobre as nuvens!

Consegue-se perceber isso?
Quando acordei daquele instante 
e aterrei na realidade,  
consciente que por um momento
senti-me ligeiramente perdido.
Saí dali sem saber a direção certa. 
...
Vento

4 de junho de 2013

Momento


Num momento rodeado por um pensamento insano,
das frases proferidas com frieza
sem respeito por quem ama,
são facilmente esquecidos os atos
e o sofrimento atroz
da presença nos momentos de outrora…
De indispensável passa-se a ser dispensável,
dependendo do momento.

Nunca foi tão fácil desistir,
Nunca foi tão fácil partir,
sem pensar nas consequências
para o lado mais fraco.

Suportar tornou-se uma forma de sobreviver,
até que um dia a partida para outro lugar
que antes parecia impossível
se torna inevitável…

Na realidade…
Fica-se a um pequeno passo.
Basta um pequeno gesto
e o destino pode ser alterado.
Para quem fica
a vida continuará o seu rumo
Mas... eu…
Finalmente serei livre.
...
Vento

24 de maio de 2013

Alteridade

Há um exercício que de há muito acompanha a minha vida interior
Não sei precisar a causa de se ter entranhado em mim.
Sei que me está tão colado à pele que já nada consigo analisar
sem o usar como uma espécie de contraprova.
Passo a explicar.
Por maior que seja a sua capacidade visual,
não há ninguém neste mundo,
mas mesmo rigorosamente ninguém,
que seja capaz de ver de uma só vez um objeto inteiro,
qualquer que seja o seu tamanho.

Por outras palavras, somos sempre incapazes
de percecionar um dos lados da tridimensionalidade de qualquer coisa,
por mais ínfima que seja.
Ora, se não conseguimos divisar em toda a sua extensão o fio
a agulha ou o dedal, como poderemos supor entender
a mente de um alfaiate?
O povo tem uma expressão que retrata o que estou a dizer:
“Por os sapatos do outro”
Gosto mais de pensar que é ver e sentir com os olhos e o coração de outrem.
Chama-se a isto alteridade.
E assim, porque compreendemos melhor o outro,
respeitamo-lo mais.
...
Vento

15 de maio de 2013

Sombras inquietantes

Miro-a e remiro-a,
vejo nela,
na imagem,
poema que se escreve a luz e sombra.

Vejo nela,
na imagem,
sentimentos congelados a arderem em traços invisíveis
e ele, quase só…
Com o olhar afundado no horizonte,
a perder-se…

Ocorrem ideias subtis,
a melhor forma de resolver os problemas da vida
sobretudo em termos práticos e inesperados.
Sublime espírito da totalidade
a perseguir
sem descanso
o fundamento e o sentido.
...
Vento

9 de maio de 2013

Nuvens

Caminho debaixo de chuva
sem pingos de cor,
olho o céu
e o mundo não me parece
tão frio…
Mas nas noites escuras
a lua não ilumina a areia.

Abraça-me,
deixa-me voar
dentro de ti…
Não deixes que este sentir
se dissipe nas nuvens.

Afasta as nuvens
do nosso lado...
Ilumina os dias
com raios de luz.

Não deixes que as águas calmas
e transparentes, se tornem turvas.
Não me deixes pensar demais.
Não me deixes em rota de colisão
comigo mesmo.
...
Vento