24 de maio de 2013

Alteridade

Há um exercício que de há muito acompanha a minha vida interior
Não sei precisar a causa de se ter entranhado em mim.
Sei que me está tão colado à pele que já nada consigo analisar
sem o usar como uma espécie de contraprova.
Passo a explicar.
Por maior que seja a sua capacidade visual,
não há ninguém neste mundo,
mas mesmo rigorosamente ninguém,
que seja capaz de ver de uma só vez um objeto inteiro,
qualquer que seja o seu tamanho.

Por outras palavras, somos sempre incapazes
de percecionar um dos lados da tridimensionalidade de qualquer coisa,
por mais ínfima que seja.
Ora, se não conseguimos divisar em toda a sua extensão o fio
a agulha ou o dedal, como poderemos supor entender
a mente de um alfaiate?
O povo tem uma expressão que retrata o que estou a dizer:
“Por os sapatos do outro”
Gosto mais de pensar que é ver e sentir com os olhos e o coração de outrem.
Chama-se a isto alteridade.
E assim, porque compreendemos melhor o outro,
respeitamo-lo mais.
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Vento

15 de maio de 2013

Sombras inquietantes

Miro-a e remiro-a,
vejo nela,
na imagem,
poema que se escreve a luz e sombra.

Vejo nela,
na imagem,
sentimentos congelados a arderem em traços invisíveis
e ele, quase só…
Com o olhar afundado no horizonte,
a perder-se…

Ocorrem ideias subtis,
a melhor forma de resolver os problemas da vida
sobretudo em termos práticos e inesperados.
Sublime espírito da totalidade
a perseguir
sem descanso
o fundamento e o sentido.
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Vento

9 de maio de 2013

Nuvens

Caminho debaixo de chuva
sem pingos de cor,
olho o céu
e o mundo não me parece
tão frio…
Mas nas noites escuras
a lua não ilumina a areia.

Abraça-me,
deixa-me voar
dentro de ti…
Não deixes que este sentir
se dissipe nas nuvens.

Afasta as nuvens
do nosso lado...
Ilumina os dias
com raios de luz.

Não deixes que as águas calmas
e transparentes, se tornem turvas.
Não me deixes pensar demais.
Não me deixes em rota de colisão
comigo mesmo.
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Vento