16 de dezembro de 2013

Imagem

Hoje, não consigo recompor o meu rosto,
e, se nitidamente o imagino,
não sou bem eu
mas uma qualquer imagem.
Hoje, a imagem apropriou-se de mim:
deve ser assim que se começa a morrer.
Quando o corpo desaparece
nos sinais da passagem.

Já não tenho tempo para ganhar o amor,
mas não quero complicar as coisas
mais simples da terra,
bom seria entrar no sono
dentro de um saco do meu tamanho,
e que uns dedos invisíveis lhe dessem um nó,
e eu de dentro não o pudesse desfazer:
um saco sem qualquer explicação,
que ficasse para ali num sítio bem amarrado.

Não por causa do destino, 
apenas longe, 
sem nada a dizer,
esquecido de mim mesmo, 
num saco atado,
um saco arrumado 
nos armazéns obscuros.
...
Vento

A história é infinita. 
Podemos interceptá-la em qualquer ponto.
Era uma vez uma cidade onde os habitantes sabiam tanto
do sofrimento humano que quando acordavam deitavam-se logo.
...