4 de setembro de 2013

Ruídos

De noite inclino-me, inclino-me e deixo-me cair
com este cabelo e o sistema nervoso descompostos,
caio de cansaço, de dor, de sono...
Sou uma mentira que diz sempre a verdade.

Fecho os olhos, procuro adicionar à escuridão do quarto
a escuridão das minhas entranhas.
Agrada-me a ideia de que, através deste simples gesto
pudesse harmonizar o interior e o exterior,
é como se as trevas em que o quarto mergulha
e as que dentro de mim se desprendem
fossem de uma só natureza.

De certa forma deixo de ter corpo,
ou pelo menos um corpo exterior,
sem luz posso finalmente reduzir-me
e ficar atento aos ruídos da noite.
Esses ruídos, que em meu entender
são um modo da distância se exprimir,
momentos de puro sossego
que por si só, proporcionam um belo prazer.

A transformação que as trevas provocam no meu corpo
quando o ouvido se aproxima do coração,
é como se essas mesmas trevas
assimilassem e reproduzissem
o espaço existente entre o interior e o exterior.

Esses ruídos que surgem dentro de mim
e que os sentidos parecem identificar
só porque habitam este corpo,
circulam em ambos os sentidos
até que lhes anulem os limites.

“Tantas vozes fora de nós!
e se somos nós quem está lá fora!”
...
Vento