24 de maio de 2013

Alteridade

Há um exercício que de há muito acompanha a minha vida interior
Não sei precisar a causa de se ter entranhado em mim.
Sei que me está tão colado à pele que já nada consigo analisar
sem o usar como uma espécie de contraprova.
Passo a explicar.
Por maior que seja a sua capacidade visual,
não há ninguém neste mundo,
mas mesmo rigorosamente ninguém,
que seja capaz de ver de uma só vez um objeto inteiro,
qualquer que seja o seu tamanho.

Por outras palavras, somos sempre incapazes
de percecionar um dos lados da tridimensionalidade de qualquer coisa,
por mais ínfima que seja.
Ora, se não conseguimos divisar em toda a sua extensão o fio
a agulha ou o dedal, como poderemos supor entender
a mente de um alfaiate?
O povo tem uma expressão que retrata o que estou a dizer:
“Por os sapatos do outro”
Gosto mais de pensar que é ver e sentir com os olhos e o coração de outrem.
Chama-se a isto alteridade.
E assim, porque compreendemos melhor o outro,
respeitamo-lo mais.
...
Vento